terça-feira, 15 de abril de 2008

A praça Pi

Toda cidade de interior tem uma praça. Praça central, com um coreto e vários bancos ao redor e uma igreja matriz do outro lado da rua. O verdadeiro "point" da cidade.

Minha avó e minha mãe sempre contam a mesma história da praça, na época em que eram jovens. A praça era o local de encontros e namoros: o verdadeiro Shopping Center dos jovens. Era lá que as meninas-mulheres desfilavam. Sim, era na verdade, a praça, uma passarela. As moçoilas desfilavam pela praça, dando voltas e voltas, e os rapazes ficavam parados, olhando uma por uma, até escolher "a da vez". Nossa... veio a minha cabeça um curral - onde o fazendeiro escolhe as novilhas que vão para o abatedouro. Mas não é essa a analogia que quero fazer. Quero dizer que os tempos não mudam. Mesmo.

Como assim, os tempos não mudam? Você já percebeu como acontecem as festas hoje em dia? Não necessariamente festas: casamentos, reuniões de amigos, ambiente de trabalho, happy hour num boteco, churrascos e até batizado. Já percebeu a dinâmica dos encontros sociais? São desfiles na praça. A mocinha aparece toda arrumada, cheirosa e sorridente - sempre com uma amiga do lado (até hoje existem muito, mas muito poucas mulheres que saem sozinhas para encontrar, com sorte, algum desconhecido interessante fora de casa). Do outro lado da "linha" está o mocinho (geralmente acompanhado por um outro mocinho - mais babaca que ele). O mocinho tem aquele ar de James Dean, sabe? Olha para todas, avalia o material, deleta as fumantes, pondera mais um pouco o equipamento de todas para não correr o risco de deixar alguém de fora. Fala alguma coisa grotesca para seu comparsa. Consegue imaginar a cena? Pois então: o mocinho vai conversar com a mocinha - a amiga dela tem que ficar de escanteio e aí entra o amigo babaca para fazer companhia a ela. Papo vai, papo vem... o resto nem preciso contar. Antigamente era muito provável que um "aproach" desses daria em namoro. Talvez casamento, cinco filhos e oito netos. Mas e hoje? Ahhh... hoje é uma incógnita!

A dinâmica social de um primeiro encontro apresenta muitas variáveis. As única invariáveis são a praça, a aproximação e as primeiras frases clichês. O depois... é tão difícil saber quanto acertar os seis números da Mega Sena. E que variáveis são essas? Quantidade de etanol no sangue da mocinha; TPM e fases suplementares (depois que descobrimos o poder dos hormônios na mulher, tudo é desculpa para alguma fase da ovulaçã0); Estabilidade profissional, financeira e grau de instrução - preferencialmente curso superior completo - para ambos sexos; Afinidade na boemia ou no esporte (ou um ou outro - essas tribos raramente se misturam em harmonia); Capacidade básica para operar um telefone celular para enviar mensagens SMS e MMS, tirar fotos e programar músicas legais como toque de chamadas; Impreterivelmente ter perfil no Orkut, endereço de e-mail e conta no MSN; Ter camisinha e saber da existência de pílulas do dia seguinte (caso necessário). Claro que existem muitas outras variáveis - não quero me estender muito aqui.

Então voltemos a equação social de um primeiro encontro:

Variáveis + Invariáveis =

E aí? O que vai dar isso? 3,14159...??? Diante de um número infinito, podemos chegar a infinitas respostas. Ou seja: uma aproximação de um casal pode resultar em namoro, casamento e bodas de prata (ouro já é demais); noivado e fim de relacionamento depois de uma década; muitos beijos, sexo animal e troca de telefones para evitar a culpa do pecado capital (luxúria). Pode dar em tanta coisa - como dar em nada - ninguém dá nada mesmo. Nem beijo. Nem nome. Mas tudo é .

, na matemática, representa o quociente do perímetro de uma circunferência pelo seu diâmetro. Que coisa nerd! Nerd nada! É isso: a dinâmica dos encontros sociais são círculos, cíclicas. Resumindo: todos nós passamos e repassamos pelas mesmas situações em nossos relacionamentos - de formas diferentes, claro. Mas são ciclos. Sempre são.

Ou seja:

= Estamos sempre dando voltas e mais voltas na praça.

Já viajei demais por hoje. Mas que o mundo continua dando voltas, cíclicas, isso continua sim!

Um comentário:

Ana disse...

É... lendo de novo esse post que fiz ontem, parece muita viagem mesmo. Na segunda leitura talvez faça algum sentido. Na terceira, beleza.

Sei que quase ninguém entra nesse blog... mas se um dia ficar famoso, eis o que eu quero dizer:

São dois assuntos: a praça e o Pi.

Sobre a praça: tal como há 50 ou 60 anos atrás, ainda hoje acontecem os mesmos rituais de aproximação entre um casal. Invariavelmente existe uma balada por aí que é a praça, onde a mulher vai toda arrumada para se mostrar para alguém. Ainda são os mesmos modos de aproximação e as mesmas frases para o início da conversa.

O que mudou? Sexualidade - existem dois, três ou quatro tipos de "opções" sexuais hoje em dia. O sexo é fácil hoje em dia - basta ter tesão suficiente, desencanação moral em bom grau, etc. Então, as chances de acontecer amor, reciprocidade em sentimento de verdade e um verdadeiro encontro - são mínimos atualmente.

Sobre o Pi: Viajei nessa! Mas olha só: Pi é o quociente do perímetro de uma circunferência sobre seu diâmetro. Pra que encontrar Pi? Sei lá... só relacionei Pi por ser um número que não acaba mais e poder estar relacionado a um círculo. Ou seja, uma expressão matemática para deixar mais vago ainda a resposta dobre todas as dúvidas sobre relacionamentos humanos e por sempre, sempre haver algum "déjà vu" nos vais e vêns da vida.

Estar andando em círculo é neurótico. Todos somos. Difícil sair. Mas possível. Sairmos de um círculo para andar em outro. É a vida. E relacionamentos são assim: neuróticos, repetitivos e maravilhosos. Até certo ponto.


Se compliquei mais ainda... deixa quieto.

Pra bom entendedor meia palavra já bas...