sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Eu não sei fazer amor

por Ailin Aleixo
O que, raios, é fazer amor?

Sempre achei essa expressão coisa de menina virgem do interior ansiosa por uma fusão romântica-orgásmica-amorosa-eterna. E, inevitavelmente, a pobrezinha passaria o resto da vida amuada, copulando com um cara muito mais interessado no campeonato mineiro de futebol do que em fazê-la gozar. Ou feliz.

Nunca acreditei nessa história de demonstrar todo o sentimento que vai por dentro através da união mágica dos corpos. Acho uma pentelhação sem fim filmes românticos em que o casal enamorado transa à luz trepidante de velas, inebriado pela brisa, sussurra palavras de devoção eterna ao pé do ouvido e, ao final, repousa nos braços um do outro sem uma gota de suor e com todos os pêlos no lugar. Pelamordedeus! Sexo é incrível porque é irracional, animal. Porque, naquele momento, você se esquece. Perde-se. Une-se ao outro e, somados, viram energia, gozo, loucura temporária. É incrível porque é insano, vem das entranhas. E, havendo tesão (e quase sempre um pouco de álcool), pode ser muito bom mesmo sem maiores aprofundamentos emocionais.

Só sei que amor não se faz. Amor se sente. Amor se dá, se doa. A materialização dele pode ser carinho, pode ser cafuné. Pode ser sexo. Mas, apesar de ser uma ferramenta poderosa, ninguém passa a amar, ou o amor, através do sexo. Hoje sei que existe uma diferença colossal entre trepar e transar com quem se ama - o primeiro é uma atividade aeróbica. O segundo, uma harmoniosa fusão do corpo com o coração. É ter prazer em provocar prazer. É importar-se com as pequenas reações do outro, é catalogar mentalmente tudo que causa arrepio, gemidos. É ficar feliz em sentir a pele, em encaixar as curvas, em respirar perto do pescoço.

Para mim, fazer amor é muito mais que um jeito meiguinho e politicamente correto de se referir ao sexo. Para mim, fazer amor é estar com quem se deseja profundamente do jeito que se gosta, sem moralismos, com risos. Depois, ficar na cama conversando. Ou dormindo. Ao acordar, ir à geladeira trazer água. É pegar duas toalhas de banho no armário. Perguntar aonde vamos comer depois. Dar um abraço a caminho do elevador. É entregar-se a viver o dia-o-dia.

Sendo assim, quero mais é fazer amor por toda a minha vida.

Um comentário:

Ana disse...

ÓTIMO!!!
Mas eu terminaria o texto assim: quero transar com quem eu amo pelo resto da vida. Realmente o "fazer amor" não existe. Amor não se faz. Simplesmente existe. Sem explicações. Sem cobrança. Sem sentido. Amar é! Sem as reticências do papel de carta; com exclamação; imperativo; e ao mesmo tempo essência natural do ser humano.